terça-feira, 22 de março de 2011

Desculpem, eu trabalho...

Vitória SC - Atlético da Malveira

Num país em que determinadas terminologias, como corrupção, pedofilia ou tráfico, se vulgarizaram e entraram no vocabulário comum de qualquer cidadão, existem outras que cada vez mais vão caindo em desuso. O trabalho é uma delas. Hoje, só em surdina conseguimos ouvir alguém dizer que trabalha. Normalmente até precedido de um formal pedido de desculpas. "Desculpe, trabalho...". E atenção não caiam num erro frequente. Onde está escrito "trabalho", não se deve ler "emprego", são conceitos completamente diferentes. 

É portanto normal, que cada vez menos instituições se preocupem ou tenham em consideração aqueles que trabalham. O nosso Vitória, como seria esperado, não é excepção. Além dos horários desajustados e proibitivos de determinadas partidas, por imposição de um canal de televisão, existem ainda os impedimentos naturais de um Clube que permaneceu em estado vegetativo durante longos anos. O Vitória nunca precisou, ou pelo menos os seus responsáveis sempre assim pensaram, de ir ao encontro dos associados. "Os sócios vivem para o Clube". Hoje, as coisas são diferentes e não faltará quem esteja largamente arrependido. Ainda assim, existem erros básicos que tardam em ser corrigidos... 

Colocar o atendimento ao associado, de segunda a sexta, das 9H30 às 12H30 e das 14H30 às 18H00, pode eventualmente ajudar os tais corruptos, pedófilos ou traficantes, mas coloco grandes reticências que possa realmente servir quem trabalha. Do mesmo modo que permitir o pagamento de quotas via Multibanco e obrigar o associado a deslocar-se ao estádio (nos tais horários para pessoas ligadas aos novos tipos de profissões) para levantar a respectiva "vinheta", revela alguns traços sádicos que deveriam merecer acompanhamento psicológico. São apenas dois exemplos, que ajudam a explicar determinadas quebras nas estatísticas. Dois de vários aspectos negativos, que quem trabalha no Clube deve urgentemente resolver. Mais uma vez é importante salientar, alguém que trabalhe e não simplesmente alguém que lá esteja empregado. 

Desculpem, eu trabalho... mas sonho há vinte anos com o Jamor.

7 comentários:

  1. Portanto... quem lá foi é corrupto, pedófilo ou traficante. Ok.

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  2. Caro Anónimo 1,

    Era precisamente essa a única conclusão a retirar do texto. Excelente capacidade de análise.

    Caro Anónimo 2,

    Não foi o único... Embora certamente que esses tenham sido poucos.

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  3. Caro Agostinho,
    Estou 100% de acordo consigo, os seus comentarios vao de facto mais longe e falando sem papas na lingua directamente na ferida,só tenho pena que ao nivel de quem decide, principalmente com responsabilidades profissinais no nosso clube não consiga ver este assunto desse modo. Nem todos tem alguem que possa la ir "dar um saltinho" e levantar o merecido bilhete, mas deve se prevenido e pensado o direito a TODOS em ter uma oportunidade de fora do tempo normal de trabalho o poder fazer por si so sem ter que pedir favor a ninguem. Saudações Vitorianas.

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  4. Caro Ricardo,

    A situação é de facto lamentável e por demais evidente. Até porque a solução não seria dificil nem sequer ficaria mais cara para o Clube.

    Mas enfim, não falta quem por diversas formas tente complicar o que é simples.

    Rumo ao Jamor...
    Um Abraço

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  5. Obviamente que o objectivo do texto não é chamar pedofilo, corrupto ou traficante a quem tem as tardes livres, mas dado o elevado nível de desemprego e acesso ao primeiro emprego, constato que não é um texto feliz.
    O que até me admira, tendo sido escrito pelo Agostinho Marques.
    Quanto à questão em si, concordo totalmente. Pode-se dizer que é fruto de muito imobilismo e falta de proactividade, porque seria simples estabelecer horários de funcionamento adequados à disponibilidade da "clientela".
    É assim na indústria, é assim no comércio, é assim nos serviços, parece que só o Vitória é que tarda em modernizar-se.

    É pena, porque muitas vezes pequenas soluções, simples e baratas, podem ter grandes efeitos.
    Haja quem aja

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  6. Boa tarde Manuel,

    A terminologia aplicada teve apenas como objectivo chamar a atenção para um problema por diversas vezes reportado. Penso que nesse sentido, cumpriu aquilo que era pretendido.

    Relativamente ao desemprego e dificuldade no acesso ao primeiro emprego, concordo. Infelizmente todos reconhecemos a dificuldade em que o país vive e as fracas perspectivas futuras. Mas, e há sempre um mas, também existem problemas nas próprias pessoas. Não contando sequer com aqueles que simplesmente não querem trabalhar, existem outros que querem apenas determinado tipo de empregos. E não importa que por exemplo sejam absolutamente necessárias “costureiras” ou “cortadores” e que o horário de trabalho nem contemple fins-de-semana e no final o ordenado seja similar, mas por uma questão de "estatuto" (que sinceramente não compreendo) preferem trabalhar num shopping ou algo similar, onde a procura é muito mais reduzida. Problemas existem, bastantes até, mas a mentalidade das pessoas também tem de ser alterada.

    Quanto ao resto, mais uma vez, só temos de seguir os outros. Ver o que eles fazem e copiar o modelo. Infelizmente continuamos bem distantes.

    Um Abraço

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